Nicolly Bueno

Nicolly Bueno
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Quanto vale uma ilusão?

Prefácio de Nicolly Bueno
Prefaciar o livro de Arlinda Garcia de Oliveira Marques é para mim um misto de orgulho e desafio. Sua obra “Quanto vale uma ilusão?” revela-se um importante instrumento para debates e reflexões sobre o fio condutor da narrativa que é o adultério feminino.
Em princípio, parece-nos tratar de um tema comum no cotidiano e na literatura, mas é completamente inovador no estilo artístico ficcional da autora. Ao abordar o adultério feminino na contemporaneidade logo nos vem
à mente a evolução da mulher e o seu novo papel social, notoriamente conquistado por meio das duras batalhas em busca da tão almejada igualdade de direitos. Por muito tempo, a mulher foi vista como um ser frágil, dependente
do homem, destinada a ser boa mãe e esposa. Arlinda dá voz à personagem principal Denise, a qual narra a obra, ora justificando suas atitudes, ora culpando-se pelos seus atos em busca da felicidade.
A narrativa em primeira pessoa confere uma veracidadeaos acontecimentos, fazendo de Denise uma mulher como tantas outras: casada, boa mãe, carente, cheia de desejos e insatisfeita com o casamento. Uma mulher humana, que almeja ser feliz e valorizada pelo marido.
A leitura deste romance vai se instalar imediatamente no contexto cultural onde cada leitor evolui, afirmando sua dimensão simbólica e agindo nos modelos do imaginário coletivo, independente de aceitá-los ou recusá-los.
Sendo assim, cabe ao leitor, analisar o enredo e julgar conforme os diferentes contextos sociais e históricos que o tema exige.
A obra de Arlinda não pode, de modo algum, ser reduzida a uma única interpretação em virtude da riqueza de acontecimentos e fatos sociais e psicológicos que merecem uma análise minuciosa antes de qualquer julgamento.
Ao se deparar com a vivência da personagem Denise, suas carências, seus desejos e suas necessidades emocionais, o leitor despertará interesse pelo destino da personagem confrontando a instância ficcional com situações davida real. Assim, terá a impressão de escapar de si próprio, se abrindo para a experiência do outro, tornando-a, por um instante, como legítima e verdadeira.
Não é possível julgar sem antes compreender, pois a avaliação moral não cabe quando avaliamos prejuízos emocionais. Denise abdicou da falsa sensação de vida perfeita ao lado do marido que lhe oferecia tudo materialmente,
libertou-se do rótulo de boa mãe e foi viver a mais tórrida paixão com o amante igualmente desejado por outras mulheres: bonito, carinhoso, romântico e
cheio de encantos. 
Para muitos Denise é apenas uma traidora infiel. Para outros ela é a representação da mulher livre de preconceitos, com autonomia suficiente para decidir a própria vida. No entanto, a surpresa está no desfecho do que deveria ser uma linda história de amor. 
Arlinda, entretanto, se desvencilha da missão de julgar a personagem, dando ao leitor o direito de perdoá-la ou até mesmo condená-la. De qualquer modo, a leitura deste livro nos faz repensar a dívida que a sociedade tem para com as mulheres. A obra requer que o leitor se despida de toda hipocrisia patriarcal, de toda moral machista culturalmente construída para engendrar no mundo feminino em sua totalidade, sem falsos moralismos ou conceitos pré-concebidos. Este livro é, por isso, instigante e profundamente controverso.

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