Prefácio de Nicolly Bueno
Prefaciar
o livro de Arlinda Garcia de Oliveira Marques é para mim um misto de orgulho e
desafio. Sua obra “Quanto vale uma ilusão?” revela-se um
importante instrumento para debates e reflexões sobre o fio condutor da
narrativa que é o adultério feminino.
Em
princípio, parece-nos tratar de um tema comum no cotidiano e na literatura, mas
é completamente inovador no estilo artístico ficcional da autora. Ao abordar o adultério
feminino na contemporaneidade logo nos vem
à mente a evolução da
mulher e o seu novo papel social, notoriamente conquistado por meio das duras
batalhas em busca da tão almejada igualdade de direitos. Por muito tempo, a
mulher foi vista como um ser frágil, dependente
do homem, destinada a
ser boa mãe e esposa. Arlinda dá voz à personagem principal Denise, a qual
narra a obra, ora justificando suas atitudes, ora culpando-se pelos seus atos
em busca da felicidade.
A
narrativa em primeira pessoa confere uma veracidadeaos acontecimentos, fazendo
de Denise uma mulher como tantas outras: casada, boa mãe, carente, cheia de desejos
e insatisfeita com o casamento. Uma mulher humana, que almeja ser feliz e
valorizada pelo marido.
A
leitura deste romance vai se instalar imediatamente no contexto cultural onde
cada leitor evolui, afirmando sua dimensão simbólica e agindo nos modelos do
imaginário coletivo, independente de aceitá-los ou recusá-los.
Sendo assim, cabe ao
leitor, analisar o enredo e julgar conforme os diferentes contextos sociais e
históricos que o tema exige.
A
obra de Arlinda não pode, de modo algum, ser reduzida a uma única interpretação
em virtude da riqueza de acontecimentos e fatos sociais e psicológicos que
merecem uma análise minuciosa antes de qualquer julgamento.
Ao
se deparar com a vivência da personagem Denise, suas carências, seus desejos e
suas necessidades emocionais, o leitor despertará interesse pelo destino da
personagem confrontando a instância ficcional com situações davida real. Assim,
terá a impressão de escapar de si próprio, se abrindo para a experiência do
outro, tornando-a, por um instante, como legítima e verdadeira.
Não é possível julgar
sem antes compreender, pois a avaliação moral não cabe quando avaliamos
prejuízos emocionais. Denise abdicou da falsa sensação de vida perfeita ao lado
do marido que lhe oferecia tudo materialmente,
libertou-se do rótulo
de boa mãe e foi viver a mais tórrida paixão com o amante igualmente desejado por
outras mulheres: bonito, carinhoso, romântico e
cheio de encantos.
Para
muitos Denise é apenas uma traidora infiel. Para outros ela é a representação
da mulher livre de preconceitos, com autonomia suficiente para decidir a
própria vida. No entanto, a surpresa está no desfecho do que deveria ser
uma linda história de amor.
Arlinda, entretanto,
se desvencilha da missão de julgar a personagem, dando ao leitor o direito de
perdoá-la ou até mesmo condená-la. De qualquer modo, a leitura deste livro nos
faz repensar a dívida que a sociedade tem para com as mulheres. A obra requer
que o leitor se despida de toda hipocrisia patriarcal, de toda moral machista
culturalmente construída para engendrar no mundo feminino em sua totalidade,
sem falsos moralismos ou conceitos pré-concebidos. Este livro é, por isso,
instigante e profundamente controverso.
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