Nicolly Bueno

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Violência contra a mulher tem perdão?

Nicolly Bueno*

       
  A violência, de modo geral, está tomando conta dos noticiários e, de certo modo, assustando a sociedade pela crueldade assistida, gratuitamente, em nossa própria residência. Repudio todos os atos violentos e contra a integridade física do ser humano, mas a violência contra a mulher tem me feito refletir muito sobre como a sociedade, em pleno século XXI, ainda continua machista e patriarcal. A historiadora e professora universitária Mary Del Priore, em entrevista para o site BBB Brasil disse que “o machismo no Brasil se deve muito às mulheres. São elas as transmissoras dos piores preconceitos. Na vida pública, elas têm um comportamento liberal, competitivo e aparentemente tolerante. Mas em casa, na vida privada, muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada, a culpa é da menina; e ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão. O que mais vemos, sobretudo nas classes menos educadas, é o machismo das nossas mulheres”.
            A “Lei Maria da Penha”, criada para proteger e aumentar o rigor sobre os crimes praticados contra a mulher garante em seu Art. 2o  que “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”.
            Segundo o Mapa da Violência 2015, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários em 2013. Mas não se trata apenas de casos cruéis como assassinatos. A violência sofrida pelas mulheres pode ser verbal e/ou física. São agressões aviltantes, praticadas por homens machistas, sem argumentos para o diálogo e sem condições psicológicas para resolver um conflito sem agressividade.
            O amor e o perdão são duas virtudes ensinadas por diversas religiões. Mas me pergunto se seria possível perdoar um agressor por amor ou se seria possível amar mesmo depois de sofrer uma violência. Jamais discutiria tais questões que envolvem educação familiar, cultura e religião.
            O homem agressor não pode se sentir no direito de agredir a mulher por nenhum motivo. Não há justificativa para um ato de violência. Considero covardia uma pessoa descontrolada emocionalmente usar a força para impor a sua decisão, opinião ou desejos. A mulher conquistou sua liberdade no mercado de trabalho e não pode ser submissa no lar ou em qualquer tipo de relacionamento. Perdoar uma agressão seria o mesmo que dar o direito ao homem de repetir o mesmo ato quando lhe for conveniente. Para a violência existem denuncia e leis. A dor de um ato agressivo fere não apenas a integridade física da mulher, mas, sobretudo, a psicológica, e creio que se existir amor pelo agressor, a dor é ainda maior. Mesmo assim, as mulheres devem denunciar, buscar amparo legal e exigir a punição adequada.
            Agressividade não resolve conflitos em relacionamentos ou na vida social. Se não existe diálogo e respeito não é possível que possa existir perdão. Raramente o agressor se arrepende de seus atos e nos casos de assassinatos, o arrependimento não devolve a vida à vítima. Portanto, violência contra mulher a não tem perdão, mas tem sim justiça!

  • A autora é professora, escritora e membro da Academia Venceslauense de Letras

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